top of page

I H G G

Ano 1

Emancipação de Aparecida e a Imprensa Local

por Joaquim Roberto Fagundes

Artigos - Joaquim

  • YouTube Social  Icon
  • Pinterest Social Icon
  • Google+ Social Icon
  • Facebook Social Icon
  • Twitter Social Icon
  • LinkedIn Social Icon

A imprensa escrita teve papel destacado no processo de emancipação da cidade de Aparecida na década de 1920, como instrumento para esclarecer a opinião pública acerca da necessidade de autonomia frente aos problemas e desafios trazidos pelo contínuo descaso político da edilidade guaratinguetaense. Como, também, para derrubar teses inverossímeis apregoadas pelo partido político situacional sobre a inviabilidade jurídica do desmembramento do território. E para dar maior ênfase e encorajar a população na luta pela causa, presente desde o final do século XIX.

​

Justamente no período de crises e mudanças políticas por todo o país, com certo comprometimento de determinadas classes sociais que lutavam por seus direitos de liberdade e atuação nos destinos das cidades. Antecipando a derrocada quase completa das oligarquias regionais paulistas representadas por famílias, cujo domínio político baseava-se na tutela do indivíduo, instituída na forma do jogo de favores, no voto de cabresto e no acesso aos empregos públicos por militantes e correligionários leais. A época dos coronéis e da indistinção do público e privado na gerência dos negócios do executivo e do legislativo. Como da política de alianças realizadas em nível partidário e eleitoral para a escolha dos candidatos. Período do voto aberto, das fraudes e dos eleitores escolhidos de forma censitária.

​

Em Guaratinguetá, por esse tempo e dentro desse quadro, a atuação da imprensa não era indiferente a tal situação e estava calcada principalmente no jogo político. Existiam diversos jornais e informativos, e dentre eles “O Correio Popular”, sob a direção do Partido Republicano Paulista (PRP) e os jornais “O Pharol” e “A Liberdade”, de cunho oposicionista. O primeiro sob o julgo da família Rodrigues Alves, conhecido como partido Alvista; e os dois últimos sob a orientação da família Camargo (partido camarguista). Os alvistas eram contrários e os camarguistas a favor da emancipação de Aparecida.

​

E foi através deles que foram travados os principais argumentos e contra-argumentos sobre a emancipação do município de Aparecida, cujo ápice dá-se entre os anos de 1924 e 1928, finalizados com a vitória em 17 de dezembro de 1928. Principalmente nos editoriais de ambos os jornais. “A Liberdade”, criado para o fim exclusivo de lutar pelostatus de município e combater a campanha contrária do órgão oficial o PRP. E o “Correio Popular”, em circulação anos antes, para servir de veículo de catecismo crítico a impedir o movimento de fragmentação do território guaratinguetaense. Sem excluir, que independente, existiram discussões, brigas e desentendimentos no seio da população. Entre pessoas comuns, residentes em Guaratinguetá e Aparecida, conhecidos pejorativamente como trancas e gamelas.

​

“A Liberdade”, circulante em primeiro número a 16 de março de 1924, sob a direção de Júlio Machado Braga (diretor) e Irineu de Carvalho (gerente), procurou, ao longo do tempo, rebater as justificativas emitidas pelo “Correio Popular”, que defendia ser impróprio e impossível pensar em desmembramento do território, pois o bairro ou freguesia de Aparecida não possuía qualificativos jurídicos para almejar tal liberdade. Não possuía número suficiente de habitantes (10.000) e que sua ligação com Guaratinguetá era feita apenas por uma avenida, por distância abaixo dos seis quilômetros previstos em lei; e que assim independente ficaria com território minúsculo, e sem casa apropriada para abrigar a Câmara Municipal.

​

Para o olhar dos signatários do “A Liberdade” as teses do rival eram inadmissíveis por não corresponder com a realidade. Defendiam, em suas páginas, diante de uma nova e promissora conjuntura política, e embasada na ideia de direito e liberdade iluminista, a possibilidade e a necessidade de ser uma cidade com recursos próprios aplicáveis em benefício do seu crescimento, enquanto uma localidade de fundamental importância no cenário nacional e internacional, por ser Santuário de Nossa Senhora Aparecida e sede de uma basílica menor. Contando com apoios políticos importantes, como o de Washington Luís, recém-eleito e empossado para o governo do Estado; da maior parte da Câmara dos Deputados Estaduais e de uma renovada liderança jovem, sob a batuta do Doutor João Batista Rangel de Camargo, ocupante de uma cadeira na mesma casa de leis. Sobretudo da população, ativa participante das subscrições levadas a efeito, requerendo urgência para a questão em causa.

​

Os oposicionistas revidavam nas páginas e nos editoriais do “Correio Popular”, com circunlóquio verbal extremamente pobre e apelativo, acusando de traição todos os favoráveis ao processo. Mas diante dos fatos reais, nada puderam fazer, pois era evidente a situação de descaso de Guaratinguetá.  Falta intensiva de água, a aparência urbana decadente nos logradouros e praças no entorno da Basílica, e notadamente os altos impostos municipais cobrados da população, a cada ano crescente, sem retorno em benefícios de infraestrutura.

​

Venceu a “Causa Santa”, como designou o articulista do jornal “A Liberdade”, que quebrou uma situação que perdurava desde fins do século XVIII. Pois as melhores terras e maior parte da renda de Guaratinguetá estavam e vinham do seu antigo bairro.

​

E, mesmo assim, o oposicionista jornal “Correio Popular”, doravante, na década de 1930, transposto para “Correio Paulista”, continuou a existir servindo uma elite social e política da cidade, muita embora com outras características.

​

Sem perda de tempo, esses mesmos opositores, vendo a causa própria perdida, usaram o recurso de adesistas de última hora, defendendo a causa no último momento, ao dar entrada ilicitamente no pedido de emancipação na Assembleia Legislativa de São Paulo, através do oficialismo do Partido Republicano Paulista. Uma piada.

​

Referências

​

Hemeroteca do Museu Frei Galvão – Arquivo Memória de Guaratinguetá.

bottom of page